Confesso que sou uma admiradora (quase) incondicional do escritor José Eduardo Agualusa que nos brinda sempre com uma das mais "belas expressões contemporâneas da língua portuguesa".
"As Mulheres do Meu Pai", o seu novo livro (que ADOREI!) conta a história de Laurentina, cineasta moçambicana há muito residente em Portugal, que descobre que seu pai verdadeiro não era o pacato burocrata lusitano que imaginava, e sim um músico angolano, famoso pelo talento e por ter quase 20 filhos com diversas esposas, namoradas e companheiras. À procura das suas raízes, ela realiza uma viagem pelos países que o seu pai percorreu: Angola, Namíbia, África do Sul e Moçambique.
Segundo Agualusa o romance surgiu a partir de uma viagem que fez em finais de 2005 com a cineasta Karen Boswall. "A história verdadeira da viagem vai alimentando a ficção do romance", segundo o escritor. A história nasceu como roteiro para um filme, mas o vício da literatura impôs-se dando forma ao romance. Este segue dois fios paralelos: a viagem de Laurentina e uma espécie de “making of” do livro, no qual Agualusa narra seus esforços para produzir um documentário sobre a música na África Austral. Aliás, o roteiro já está feito (Sílvia Godinho) e foi apresentado no Fórum das Letras em Ouro Preto (Brasil). Segundo FJV, no A Origem das Espécies: “vimos uma espécie de diaporama do road-movie, no mínimo comovente, com música fantástica de um quarteto de cordas do Soweto."
As personagens, fascinantes, são pessoas divididas entre a busca de raízes e/ou da memória histórica e o desejo de esquecer, de romper barreiras e fronteiras e (re)inventar a própria identidade. As mais interessantes são as que se redesenham diversas vezes, mudando de nacionalidade, profissão, ideais políticos. Tudo o que parece sólido desmancha-se no ar e a vida parece "gozar" sempre com os que acham que a podem domesticar com verdades irrefutáveis.
A escrita é fantástica, poética, bem-humorada, colorida, surpreendente, fascinante. “De quantas verdades se faz uma mentira?”- é a interrogação inicial.
Para além de tudo o mais, Agualusa aguça, como sempre, o meu apetite por visitar África, e Angola em particular (“Se fosse uma ave, Luanda seria uma imensa arara, bêbada de abismo e de azul…”), e confirmar esse imaginário do princípio de tudo, da imensidão sem fim, de lembranças, sonhos, esperanças e também de frustrações.
“- Leve os sonhos a sério – sussurrou. – Nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado.”
“- Leve os sonhos a sério – sussurrou. – Nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado.”
3 comentários:
Sabes que noutro dia estive quase para comprar esse livro? depois ficou, trouxe um do Luandino por razões mais pessoais. Mas ok, na próxima vez que entrar na Fnac....
Eu sou suspeita mas, tenho a certeza que não te vais arrepender.
Jpa agora, qual do Luandino?
boa pergunta... não me lembro do nome. mas não sei se vou chegar ao fim. não falo "angolano" que chegue para o ler!
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