terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Será que é desta que me motivo?

SEDENTARISMO ACELERA ENVELHECIMENTO CELULAR

Um estudo publicado no Archives of Internal Medicine sugere que,ter uma vida sedentária pode tornar-nos geneticamente velhos antes de tempo. A investigação envolveu gémeos e verificou que os que eram fisicamente activos nos tempos livres eram biologicamente mais jovens do que os seus pares sedentários. Partes chave do ADN, os telómeros, encurtavam mais rapidamente nas pessoas sedentárias. Esta situação traduz-se num aceleramento do envelhecimento celular.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Das Märchen

Porque me faltam palavras, e saber, transcrevo a crítica de Pedro Boléo no Público:

O Teatro de São Carlos estava cheio (...). Ao intervalo, duas horas depois, as desistências eram muitas. Cerca de metade do público tinha abandonado a sala. A primeira ópera do compositor português é uma co-produção do São Carlos, da Gulbenkian, da Casa da Música e do IRCAM (instituto francês dedicado à investigação e à criação de música contemporânea).As expectativas à volta desta produção eram muitas. Encomenda ainda da direcção de Paolo Pinamonti, Das Märchen (O Conto) passou por algumas peripécias até ao dia da estreia, incluindo vários adiamentos e algumas discussões que vieram a público entre o compositor e o director do São Carlos. Lembrar este contexto e sobretudo o grande investimento institucional nesta ópera é importante para pensar o objecto estético apresentado na sexta-feira. Até porque Das Märchen pode ser vista, entre outras coisas, como uma reflexão (artística) sobre a arte e a sua autonomia. No prólogo que dá início ao espectáculo, fala-se da faculdade da "imaginação", aquela sem a qual a arte não existe. "Ela não se prende a nenhum objecto", diz o libreto. "Ela não faz quaisquer planos, não escolhe nenhum caminho", ouve-se depois. Quem escreveu estas palavras foi Goethe (1749-1832), o autor do conto original em que se baseia a ópera Das Märchen, e uma das figuras centrais do primeiro romantismo alemão. Goethe e Schiller desenharam, desde fins do século XVIII, os contornos da ideia romântica de uma arte autónoma e definiram, nesse processo, a posição do artista, as condições do "livre jogo da imaginação" e as qualidades do génio criador.Mas já não estamos no fim do século XVIII. E é natural que esta enigmática (para não dizer esotérica) ópera de Emmanuel Nunes cause alguma perplexidade. A afirmação da autonomia absoluta do artista e da sua arte independente (no modelo a que alguns chamaram "arte pela arte") em tudo é contradita pela própria natureza da produção operática, e ainda mais neste caso de Das Märchen, onde há música, dança, teatro, projecção vídeo, electrónica ao vivo, cenografia, luz, etc. Embora o nome de autor tenha o peso que se sabe, o criador de Das Märchen não é só Emmanuel Nunes. E a arte na principal sala de ópera portuguesa não está sujeita apenas ao "livre jogo da imaginação dos artistas". Depende do Estado, de patrocinadores que mexem em muito dinheiro (por exemplo o BCP) e de várias instituições culturais. Dirão que estou a fugir ao assunto. Não: o assunto também é este.O problema de Das Märchen não é ser muito grande e ter música difícil para os ouvidos. O problema não é o número de horas que dura. O que há é talvez um excesso de elementos simbólicos, de coisas para olhar, para ouvir, para ler. Tudo na língua germânica, talvez para estarmos mais perto do idealismo alemão, mas transfigurado por uma encenação pós-moderna, em que o excesso simbólico chega a ser disparatado. Karoline Gruber dispara mesmo em todas as direcções, e faz uma encenação infinita nas suas múltiplas relações internas, tal como o intrincado texto de Goethe, jogando com figuras míticas, magias, círculos, terra, fogo, ouro (impossível não nos lembrarmos de Wagner). Brincadeira ou megalomania?O problema da encenação é que não sabe bem o que fazer daquilo tudo. Os corpos estão sempre em movimento (uma coreografia neo-conservadora anda ali pelo meio um pouco à nora), as personagens duplicam-se, as projecções vídeo criam imagens sobre imagens sobre imagens. O resultado mais uma vez é contraditório: tudo se mexe mas há uma sensação de que tudo é estático. Tudo é movimento permanente (como num rio), mas (quase) nada nos prende. Na música, apesar de muito bem interpretada pelo Remix com elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa e alguns bons cantores, acontece o mesmo: há milhões de acontecimentos, de timbres e de jogos rítmicos, mas tudo parece ficar no mesmo sítio e tudo parece equivaler-se. É uma música palavrosa, que fala sem parar (bavarder, em francês, é a melhor palavra para a descrever). Até aí tudo bem. Mas Das Märchen, de tanto querer ser a arte pura que não pode ser, entra numa contradição insolúvel, e opta por fechar-se ao mundo. A encenação tenta dar, na parte final, um salto para outro lugar, depois de uma espécie de "catástrofe". Mas já era demasiado tarde. E fica só isso - a ideia de que não há nada a fazer. É assim e pronto.E quem vê? E quem ouve? Também não pode pensar a ópera a que assiste, porque esta arte se diz impensável. O espectador não pode pegar em nada daquilo que vê e ouve, porque esta arte é arte pura - e querer dar-lhe utilidade é corrompê-la. Podemos então apenas pasmar? O que fica de Das Märchen é uma perplexidade. Ela leva ao extremo as contradições desta arte que se quer pura (e que afinal é tão impura) e os problemas da função da ópera nos nossos tempos, enquanto representação social do poder.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Expiação

expiação
do Lat.
expiatione
s. f., acto para aplacar a divindade;
castigo ou sofrimento de pena, imposto ao delinquente, como uma compensação do delito praticado;
penitência;
reparação;
(no pl. ) preces para aplacar a divindade





O título original do filme usa o termo bíblico para mostrar a urgência em reparar os deslizes feitos pelo caminho. E, em última análise, como mostra a cena final, em expiar os pecados cometidos. Caso contrário, eles assombram-nos com suas terríveis consequências. Às vezes, pela vida inteira. Provavelmente, pela eternidade.

O filme tem como pano de fundo a Inglaterra dos anos 1930 para contar a história de uma mulher, Briony, que se penitencia ao longo da vida por um acto que cometeu em criança e que levou à separação de um casal. A verdadeira angústia vem dela, e não daqueles que sofreram pelos seus actos, pois esses tinham no que se apoiar, a ideia de um futuro feliz. Briony permanece no passado e alimenta-se dele, o futuro vem naturalmente, mas ela nunca o vive verdadeiramente, negaram-lhe a paixão.

A narrativa em Expiação prima por uma não-linearidade e pela inclusão de várias perspectivas sobre os mesmos acontecimentos, diversos ‘flashbacks’ com a câmara a transmitir os olhares divergentes das personagens sobre o mesmo acontecimento, o que é fundamental para a evolução da história e das personagens. A banda-sonora (extraordinária) é insinuante e marca presença de uma forma obsessiva, encadeando-se perfeitamente com a acção.

O filme conquista-nos pelo seu tom de tragédia de grande escala, combinado com um romantismo arrebatador e desesperado, com uma alta carga erótica e com o poder redentor da arte.
Faz-se de cores, texturas e sentimentos. Joe Wright, o realizador, orquestra os três elementos como um maestro e faz-nos acreditar que a verdadeira cor da paixão é verde.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Das Märchen

No seu blog Programa de Festas Dionisio Leitão e Fernanda Guadalupe aconselham:

Se gosta de ópera, ou se ainda tem esperança de vir a gostar, não hesite e vá ao Teatro São Carlos assistir à estreia em Portugal de «Das Märchen» (O Conto), a primeira ópera de Emmanuel Nunes, a partir de um texto de Goethe.Emmanuel Nunes, um dos mais notáveis compositores do nosso tempo, proporciona-nos um dos grandes acontecimentos culturais neste canto à beira mar plantado, e a estreia será transmitida pela RTP, via satélite, em directo para 14 cine-teatros portugueses: Ponte de Lima, Porto, Vila Flor, Aveiro, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Torres Novas, Portalegre, Estremoz, Beja, Faro, Açores e Madeira.O director artístico do Teatro Nacional de São Carlos, Christoph Dammann, classificou “Das Märchen” como uma “obra-prima” e um exemplo do que é o futuro da ópera europeia.
De acordo com a sinopse, todas as personagens estão enfeitiçadas, vão metamorfoseando ao longo da ópera até chegarem a “uma existência livre e plena”.
E tem como cenário um rio em cujas margens vivem personagens distintas, como a Bela Lília, o Homem com a Lâmpada, o Gigante, quatro reis, dois fogos-fátuos, um Príncipe e uma Serpente Verde que se transforma em ponte para ligar as duas margens.
“A história remete-nos para um universo maravilhoso, assente numa delicada teia de alegorias, e símbolos esotéricos e alquímicos. Erige-se em torno da uma serpente, – A serpente verde – que se transmuta e se reveste de diversos significados, encontrando a sua sublimação na forma de uma ponte, que liga as margens do rio, e com elas, todos os pontos antagónicos e conflituais, proporcionando um estado de serenidade, sabedoria e felicidade.Com direcção musical de Peter Rundel, destaca-se também a encenação de Karoline Gruber. Experiente no repertório contemporâneo, a encenadora alemã apresenta o seu trabalho pela primeira vez no São Carlos. Andrew Watts, Musa Duke Nkuna, Graciela Araya e Chelsey Schill são alguns dos intérpretes convidados a participar nesta estreia absoluta sendo de destacar a participação do Remix Ensemble, Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro Nacional de São Carlos”.

Não sendo fã incondicional de ópera, acredito que muito por desconhecimento e ignorância sobre o género, vou ter oportunidade de assistir a este acontecimento no próximo Domingo. Já deu para perceber que esta estreia está envolta em polémica e não é consensual entre a fauna da área.
Com isto tudo começo a ficar entusiasmada com a coisa e, como vou completamente "despida" de qualquer preconceito, "desconfio" que vou passar uma belíssima,e muito pedagógica, tarde de Domingo.
Depois comentarei.

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias



A acção de "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" decorre em 1987, nos últimos dias do comunismo na Roménia. A história é de uma simplicidade desarmante.

Otilia e Gabita são duas amigas que vivem numa residência de estudantes de uma pequena cidade. No dia em que se passa a narrativa estão as duas muito atarefadas e nervosas, provocando em Otilia alguns atritos com o namorado. Otilia decide ajudar a sua companheira de quarto e colega Gabita a fazer um aborto ilegal.Correndo o risco de ser presa, em plena ditadura de Ceausescu, Gabita está destroçada.Otilia aluga um quarto de hotel para ambas, ao mesmo tempo que se encontra com um tal de Sr. Bebe. Ele é um especialista em provocar abortos e vai fazê-lo em Gabita. Mas, ao saber que Gabita está com a gravidez mais adiantada do que havia informado, Sr. Bebe aumenta as exigências para o serviço. Ele cobra um preço que as duas não estão preparadas para pagar.

O filme centra-se nas suas duas personagens principais, embora o enfoque seja, sobretudo, em Otilia. É com ela, sempre, que a câmara segue, persegue a personagem. É um filme brilhante na forma como a concentração narrativa se disponibiliza para abrir o filme, para marcar as personagens, que são a verdadeira essência da história. «4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias» passa-nos um certo “espírito do tempo”: uma Roménia comunista, fria, onde as personagens parecem rodeadas de fantasmas que os controlam.

Essa claustrofobia é decisivamente marcada por um longa sequência protagonizada por Otilia: quando ela deixa o namorado, na casa dos pais, e se encontra no hotel com Gabitza; o feto já foi expulso e Otilia tem que se livrar daquela prova terrível. Como fora sugerido pelo Sr. Bebe, Otilia procura uma zona anónima, onde não possam descobrir o feto. É aí que o filme ganha uma espessura extraordinária: Otilia tem a respiração ofegante, a câmara segue-a freneticamente e o som ambiente é povoado por imensos ruídos (um carro ao longe, cães que ladram, uma voz humana que grita). Parece que o peso do terror toma conta de Otilia e, por consequência, no espectador. É uma sequência muito intensa que provoca um sobressalto interior. Em última análise, Otilia não deixa ninguém indiferente: vivemos com ela o momento decisivo e somos compelidos a sentir com ela a fazer parte da sua contradição.

domingo, 20 de janeiro de 2008

O AUTO FALANTE com Pedro Cardoso

O Autofalante

Sou fã do actor Pedro Cardoso pelas séries da TV Globo que tive oportunidade de ver no GNT mas nunca tinha tido oportunidade de ao ver ao vivo. MUITO BOM. Fantástico actor, texto fabuloso.
Excerto de uma conversa que o jornal Destak teve com o actor pouco antes dos ensaios de 'Autofalante':

Quando está por cá inspira-se nos jornais e na televisão portuguesa?
Muito boa a sua pergunta. Desde que vim o ano passado, fiquei muito mais atento ao que se passa em Portugal. Depois a minha vida lá me dominou muito e esqueci um pouco. Quando se aproximou a hora de vir para cá, voltei a interessar-me, a ver a televisão portuguesa lá no Brasil. Chego aqui, às vezes fico no hotel ensaiando e vendo os programas de televisão. Também tenho ido muito ao teatro. Ontem vi aquele do Shakespeare...
As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos pela Companhia Teatral do Chiado...Isso.
Os actores são extraordinários, cumprindo a heróica missão de quebrar a quarta parede, gíria teatral que significa falar com o público directamente. Fui ver o ensaio da Maria do Céu Guerra que está fazendo uma montagem muito interessante de Antígona e, principalmente, vi um espectáculo de revista que me arrebatou o coração, com a Marina Mota. Hip...
Hip Hop'Parque...
É. Não consigo falar o nome. Hip Hop'Parque, que adorei. Encontrei tanto na revista quanto no Shakespeare uma enorme alegria. Também gostei de ver a estreia do menino dos Monty Python, Terry Jones, Evil Machines. A cidade pareceu-me muito viva e cheia de alegria. Claro que na hora do ‘rush' dentro do ‘metrô' é uma confusão. Mas isso acontece em qualquer lugar do mundo. Tive na periferia também, onde percebo um crescente movimento cultural, como temos no Brasil. É por isso que falo para as pessoas distantes do centro me virem ver. Me daria uma grande alegria.
Qual o espaço para improviso em O Autofalante?
Nenhum. Há o encontro com a plateia e esta modifica o espectáculo. Mas modifica a levada do espectáculo, a maneira, o actual. A reacção do público, um pouco mais para cá ou para lá que me faz fazer também andar para lá ou para cá. Mas não há uma mudança de rumos, uma coisa inesperada. O inesperado é o público e não eu. Eu sou o programado. Eu danço a dança que eles estiverem dançando comigo.
Tem inúmeros personagens na televisão. Algum o marcou mais?
A Vida Privada era muito legal. O Vida ao vivo que fiz com o Luiz Fernando Guimarães, o actor dos Normais, também é muito legal. E a Grande Família, que faço há 8 anos, certamente a mais expressiva.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Felicidade Realista

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguer, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor?
Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.

Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinónimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum.

Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma bênção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.

Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.

A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prémio.

Não sejamos vítimas ingénuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz.
Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.
Mário Quintana

domingo, 13 de janeiro de 2008

O Sonho de Cassandra

Definitivamente Woody Allen abandonou a sua veia cómica, mantendo, contudo a irónica, e segue em frente com argumentos dramáticos, trágicos mesmo. Neste "O Sonho de Cassandra" as identidades das personagens "colam-se" na perfeição aos dois actores principais: Ewan McGregor, Colin Farrell. Não sendo Woody Allen no seu melhor, vale a deslocação.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ano Novo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade

Para pensar...


sábado, 5 de janeiro de 2008

Pensamento do dia

«O momento decisivo... é um presente do acaso
e devemos tirar proveito do acaso.»

Cartier-Bresson

Jogos de Poder

«Jogos de Poder» é a extravagante história verídica de como um congressista, que gostava de passar um bom bocado, uma VIP de Houston, que adorava uma boa causa, e um agente da CIA, que adorava uma boa luta, conspiraram para levar a cabo a maior operação secreta na história.

Charlie Wilson (Tom Hanks) era um congressista solteiro do Texas, cuja personalidade, amiga da boa vida, mascarava uma astuta mente política, um profundo sentido de patriotismo e compaixão pelas vítimas de injustiça. No início dos anos 80, com o avanço da invasão russa, essa vítima era o Afeganistão.

Amiga de longa data de Charlie, sua patrona frequente e, por vezes, amante, Joanne Herring (Julia Roberts) era uma das mais abastadas mulheres do Texas e fervorosa anticomunista. Convicta que a resposta americana à invasão do Afeganistão era anémica, ela incitou Charlie a oferecer aos Mujahideen o que mais ninguém podia garantir: fundos seguros e armas para erradicar os agressores soviéticos da guerra.

O parceiro de Charlie neste árduo empreendimento era o agente Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman), um «bulldog» operacional administrativo que trabalhava com membros de sangue azul da Ivy League, desdenhosos dos seus talentos.
Juntos, Charlie, Joanne e Gust viajaram pelo mundo para formar uma improvável aliança entre paquistaneses, israelitas, egípcios, legisladores e uma dançarina de dança do ventre. O seu sucesso foi notável.

Durante os nove anos da ocupação do Afeganistão, o fundo dos EUA para operações secretas contra os soviéticos passou de cinco milhões para mil milhões de dólares anuais, e o Exército Vermelho acabou por se retirar do país.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Aproveitando "dica" de P.R.D.

"A fúria da vida. Porque a vida é furiosa e só a morte é sossegada. Verifico-o muitas vezes, medito-o algumas dessas muitas. Hoje, por exemplo, a cidade é inimiga da vida, ou seja da Natureza, transformando-a num fortim de cimento. Mas a Natureza está sempre de atalaia, à espera do mínimo descuido para avançar. E se o descuido se prolonga, esmaga o fortim e submerge-o em floresta. Mas a cidade também está vigilante e mantém-na à distância do seu rancor. Em todo o caso, há descuidos mínimos em que não repara. E imediatamente a Natureza aproveita. E aproveita das formas mais incríveis. Ontem parei o carro no parque de estacionamento. E ao sair reparei que em toda a placa de cimento, densa e unida como ódio, havia uma fenda minúscula em que o ódio estalava. E logo, rompendo furiosa, uma haste de erva. Como viera para ali? Como farejara o sítio para se realizar no seu milagre? Não o soube, não o sei. Sei apenas do meu espanto ajoelhado perante aquela maravilha e da minha intensa alegria pelo triunfo da vida, mesmo sob a pata pesada de uma placa de cimento".

Vergílio Ferreira, Conta-corrente Nova série (Volume I)

Águas-Belas





Ao longo da história da Humanidade a liberdade de expressão e pensamento têm sido uma das pedras de toque da arte de viver em sociedade, não sendo infrequente que de vez em quando um louco com poder ponha em causa esta essência do ser humano. Como escrevia o poeta Antero, «a liberdade não é tudo, mas é o primeiro passo para se alcançar tudo o que é justo e santo».«Clama ne cesses» é uma expressão latina, que se encontra inscrita no púlpito datado de 1692, da Igreja de estilo românico de Águas Belas, que significa «Fala, não te cales» e que reproduz parte de uma das epístolas de S. Paulo a Timóteo, onde o exortava a expandir a palavra de Deus com inteira liberdade e coragem.



Como refere o amigo e pároco de Águas Belas, dr. Francisco Vaz, professor de Latim aposentado, «a Igreja de Águas Belas, sendo românica deverá datar do século XIII, com marcas deste estilo nomeadamente, as portas redondas e os cachorros dos beirais, sendo certo que foi objecto de posteriores intervenções, nomeadamente no século XVIII, com a introdução das janelas, com data de 1756 inscrita em vários locais e na sacristia existe um lavatório desse ano, nitidamente encastradas na parede. O orago é Santa Maria Madalena». Sobre a porta principal podemos ainda encontrar uma cruz dos Templários, sinal evidente que este lugar interessou em tempos a esta ordem religiosa, extinta como se sabe a uma sexta-feira, dia 13 de Outubro de 1307, por Filipe, o Belo. Ainda hoje referimos ser dia aziago a sexta-feira 13, por referência a tal data. Esta jóia arquitectónica está no entanto votada a algum abandono, devendo merecer da parte das autoridades maior atenção e cuidados, nomeadamente a substituição daquele muro exterior de blocos, por outros materiais que dignifiquem o local.

José Robalo in «Páginas Interiores»