A acção de "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" decorre em 1987, nos últimos dias do comunismo na Roménia. A história é de uma simplicidade desarmante.
Otilia e Gabita são duas amigas que vivem numa residência de estudantes de uma pequena cidade. No dia em que se passa a narrativa estão as duas muito atarefadas e nervosas, provocando em Otilia alguns atritos com o namorado. Otilia decide ajudar a sua companheira de quarto e colega Gabita a fazer um aborto ilegal.Correndo o risco de ser presa, em plena ditadura de Ceausescu, Gabita está destroçada.Otilia aluga um quarto de hotel para ambas, ao mesmo tempo que se encontra com um tal de Sr. Bebe. Ele é um especialista em provocar abortos e vai fazê-lo em Gabita. Mas, ao saber que Gabita está com a gravidez mais adiantada do que havia informado, Sr. Bebe aumenta as exigências para o serviço. Ele cobra um preço que as duas não estão preparadas para pagar.
O filme centra-se nas suas duas personagens principais, embora o enfoque seja, sobretudo, em Otilia. É com ela, sempre, que a câmara segue, persegue a personagem. É um filme brilhante na forma como a concentração narrativa se disponibiliza para abrir o filme, para marcar as personagens, que são a verdadeira essência da história. «4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias» passa-nos um certo “espírito do tempo”: uma Roménia comunista, fria, onde as personagens parecem rodeadas de fantasmas que os controlam.
Essa claustrofobia é decisivamente marcada por um longa sequência protagonizada por Otilia: quando ela deixa o namorado, na casa dos pais, e se encontra no hotel com Gabitza; o feto já foi expulso e Otilia tem que se livrar daquela prova terrível. Como fora sugerido pelo Sr. Bebe, Otilia procura uma zona anónima, onde não possam descobrir o feto. É aí que o filme ganha uma espessura extraordinária: Otilia tem a respiração ofegante, a câmara segue-a freneticamente e o som ambiente é povoado por imensos ruídos (um carro ao longe, cães que ladram, uma voz humana que grita). Parece que o peso do terror toma conta de Otilia e, por consequência, no espectador. É uma sequência muito intensa que provoca um sobressalto interior. Em última análise, Otilia não deixa ninguém indiferente: vivemos com ela o momento decisivo e somos compelidos a sentir com ela a fazer parte da sua contradição.
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