sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Cinema de Animação"

No estéril panorama de programação infantil da altura, o "Cinema de Animação" de Vasco Granja era um mundo de sonhos e imagens. Nele "cabiam" todos os géneros de "desenhos animados" e BD e que nos dava a magia do movimento de dois ou três riscos num papel, dois ou três pedaços de plasticina.
Vasco Granja surgia no écran , simpático, com um tom de voz tranquilo e mostrava-nos um mundo novo.
Só agora soube que morreu. Fica a memória.

Transcrevo aqui um texto que diz aquilo que quero dizer:
Uma das boas nostalgias do meu tempo de criança prende-se com a rubrica televisiva, "Cinema de Animação", apresentada pelo inesquecível e carismático Vasco Granja.
O programa "Cinema de Animação" teve o seu início em 1974, logo após a revolução do 25 de Abril e aguentou-se durante 16 anos, até 1990, tendo sido apresentados cerca de um milhar de edições.
Este programa da RTP, iniciado ainda no tempo do "preto-e-branco", primava pela variedade de desenhos animados que passava, apesar do apresentador, especialista de cinema de animação, mostrar uma preferência especial pelas produções dos países de leste, nomeadamente da Polónia, Jugoslávia e Checoslováquia, muitas vezes de características experimentalistas, em contraponto às clássicas séries dos Estados Unidos, nomeadamente da Disney e da Looney Tunes.
Vasco Granja seleccionava filmes de vários países, desde a Europa até ao Japão, incluindo filmes oriundos do Canadá, então muito forte no cinema de animação experimental, nomeadamente de autoria de Norman McLaren, um dos confessos realizadores preferidos do apresentador. A Vasco Granja e ao seu “Cinema de Animação” deve-se também a divulgação e popularidade da série “A pantera cor-de-rosa”, de Friz Freleng e David DePatie, sendo, à custa disso, apelidado de "o pai da pantera cor-de-rosa”.
De todos os bons filmes de animação que eu via no "Cinema de Animação", incluindo a “Pantera cor-de-rosa”, que continua a agradar, mesmo às novas gerações, a série "O Lápis Mágico" foi aquela que mais tocou a minha imaginação de criança.
"O Lápis Mágico", no original "Zaczarowany Olowek", era uma produção polaca, cujos episódios, com cerca de 10 minutos cada, giravam à volta de um menino que tinha como amigo um duende que por sua vez lhe emprestava um lápis com capacidades mágicas, pelo que tudo o que o menino desenhasse se materializava, tanto objectos como animais. O menino tinha ainda um inseparável companheiro, um cão amarelo, muito irrequieto e inteligente, que o ajudava em inúmeras situações.
O lápis mágico só funcionava em situações especiais, normalmente numa perspectiva do Bem mas nunca ao serviço do Mal, principalmente quando alguém se apropriava do lápis ou obrigava o menino a fazer desenhos para uso maldoso.
Esta série de animação, como muitas outras tão características dos chamados países de Leste, não tinha falas e por conseguinte era apresentada sem legendas, mas apenas com música e sons. Apesar disso, as histórias eram de fácil compreensão para as crianças, mesmo as que ainda não sabiam ler e transmitiam valores de alegria, paz e amor, como fazia questão o apresentador.
Apesar da simplicidade da realização, esta série "O Lápis Mágico", tornou-se uma das preferidas da rubrica "Cinema de Animação" e deu azo a muitas e imaginativas brincadeiras. Pessoalmente, fartei-me de romper lápis e riscar paredes e papel na expectativa infantil de ver transformar-se em realidade os bolos, carros, cães e gatos que desenhava. Felizmente, para matar saudades e voltar a divertir, e até para recordar a inesquecível música de abertura, hoje em dia ainda é possível assistir a vários episódios dispersos no sítio YouTube, bastando escrever na caixa de procura o título original, "Zaczarowany Olowek".


in Santa Nostálgia

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