Depois de um dia de Verão fabuloso a preparação para um boa noite de ballet pela CNB no Tetaro Camões:
Sempre tive muita dificuldade com as coreografias da Olga Roriz e mais, uma vez, confirmei essa minha opinião. Chato, muito chato. Bem sei que a coreografia já é de 1990 mas...
À Flor da pele, a segunda coreografia, de Rui Lopes Graça, também muito boring com aqueles movimentos típicos de quem quer parecer moderno. Os 4 bailarinos eram excelentes mas a coreografia provocou-me alguns bocejos.
Aqui, ao 2º intervalo, já me questionava sobre o que se seguiria pois, para além da decepção provocada pelso 2 primeiros bailados, o calor na sala era insuportável, o ar estava a tornar-se irrespirável. Será que não há um ar condicionado, uma ventoinha, um leque?
Eis que vem Fauno e aqui começou a valer a pena. Um par de bailarinos extraordinários, com uma coreogafia exigente e intensa a apoioar-se na base clássica e originando movimentos muito belos. Começou a valer a pena.
E, finalmentecom Strokes through the tail tudo fez sentido. Ao som da Sinfonia No. 4 de Mozart, os bailarinos oferecem-nos uma combinaçao perfeita de virtuosismo com um toque de humor delicioso.
O misterioso título desta coreografia deve-se ao facto de Marguerite Donlon ter lido, num prefácio numa das edições da Sinfonia nº 40 em sol menor KV 550 para piano de Mozart, que este compositor imprimia traços (strokes), com a sua pena, sobre as notas musicais da partitura manuscrita, para indicar a forma particular de as interpretar. Esses traços cruzavam, em alguns pontos, as hastes (tails) da oitava e décima sexta notas.
A palavra tail em inglês refere-se igualmente à parte de trás de uma casaca (tailcoat) que nesta coreografia assume um papel da maior importância. Munindo-se de casaca e tutu, Marguerite Donlon demonstra o modo como facilmente ligamos objectos indefesos com o conceito tipicamente masculino ou tipicamente feminino. Ou melhor, como rapidamente apreendemos um objecto como inadequado quando utilizado fora do seu contexto habitual. Contudo, Strokes Through The Tail demonstra-nos que um homem em tronco nu, vestindo um tutu, pode tornar-se não só verdadeiramente cómico, como também marcadamente sensual. O mesmo se aplica no caso da mulher vestida de casaca.
Enfim, após um início nada auspicioso a noite acabou em beleza e, à saída, já fora do teatro, uma noite de Verão a desafiar-nos a continuar na onda...
1 comentário:
:-) bom fim-de-semana!
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